sábado, 25 de abril de 2009

ECCE HOMO-INDEX


FOTO: SARA Br




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ECCE HOMO-INDEX


Meus filmes ou vídeos poderiam ser compreendidos como rapsódias* ou simples tentativas de acerto e erro. Desde que passei a usar o suporte eletrônico, passei também a acumular um banco de imagens, uma espécie de repertório que utilizo na medida em que acho possível a citação de uma imagem ou idéia que outrora havia explorado na tentativa de criar uma realidade comunicável. Há também momentos em que minha insistência vem como uma necessidade de chegar a um ideal, que nunca alcanço, e por isto insisto compulsivamente, podendo renovar-se em significado ou apenas re-indicar uma idéia. Você pode pegar um vídeo meu e assisti-lo, você pode achar até que ele tem uma pobreza de referenciais iconográficos, mas saiba que é o que quero mostrar: “uma realidade fílmica criada e aceita por mim”.

Penso em uma escala de tempo semelhante à minha longevidade. Não estou preocupado com o momento presente ou sua repercussão modística, embora haja elementos plásticos, filosóficos e políticos que me situem numa espécie de pós-11 de setembro - que é inquestionável como fenômeno de ação midiática, seja lá quem foi seu ideólogo ou autor. Não consigo pensar de outra forma: o 11 de setembro é um ato estético belíssimo; embora a moral vigente o condene, acho-o insuperável como idéia e prática estética.

No mais, fico aqui fazendo minhas tentativas e a somatória delas me possibilita um conjunto que valoriza um ou outro trabalho de maneira notável. Ser notável é fundamental para a atemporalidade. Se hoje faço filmes que mostram minha relação com o processo criativo, ontem fazia vídeos com meu filho primogênito. Tudo isto pode agir atrelado ao tempo como uma estratégia estética: a nostalgia, citações políticas, étnicas e privadas.

Há muito não existe separação entre o privado e o público, ou melhor o íntimo e o político. Passamos por um momento dicotômico entre o fazer e o pensar, o que possibilitou a apreciação de fenômenos esquizofrênicos e uma extensiva exteriorização do íntimo. Hoje, no Brasil em especial, vivemos um processo de reintegração do fazedor ao pensamento reflexivo, então vamos a eventos de intenção artística institucionalizada e temos que ler uma “bula” para que possamos apreciar o que veremos, seja em uma galeria ou sala de exibição, e assim nos curarmos de nossa moléstia: a ignorância.

A própria idéia de ignorância é muito complicada para definir, pois vivendo em um mundo em que o não-objectual torna-se mais forte esteticamente e politicamente ( história longa que vem lá das experiências de Marcel Duchamp, passando pelo Fluxus, pelos performers dos anos 70 e chegando a nós pela arte numérica das novas tecnologias), “ignorar”, ou seja, não saber é uma constante neurose de nós os humanos.

Em minha arrogância, torno pública a expressão “Homo-index”, uma espécie de ser que, para se situar como indivíduo, compulsivamente recorre ao index, à internet, aos ditames dos espaços institucionais que promovem o “oficial”. Este “HOMO-INDEX” pode ser imagetizado como em Leonard Shelby, o personagem de Memento (EUA 2000), filme dirigido por Christopher Nolan. Leonard sofre de um distúrbio que o impede de lembrar de fatos relevantes de sua vida; seu cognitivo e sua moral preservaram-se intactos, ou seja ,ele fala, lê, realiza atividades psicomotoras complexas, respeita condutas de comportamento e interação, segue um padrão moral, mas necessita estar se reconstruindo a partir de textos tatuados em seu corpo assim como fotos e objetos pessoais. Como ele, construímos mentiras como a afetividade, o prazer, os sabores, os odores, as cores, o papel moeda, os cartões de crédito, o valor dos metais, dos diamantes, dos espaços instituídos e a arte.

Carlosmagno Rodrigues, 23 de Abril de 2009

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(* )Rapsódia
Fonte: Wikipédia,
Rapsódia é uma justaposição, de escassa unidade formal de melodias populares e de temas conhecidos, extraídos com frequência de óperas e operetas.
As rapsódias caracterizam-se por terem apenas um movimento, mas podendo integrar fortes variações de tema, intensidade, tonalidade, sem necessidade de seguir uma estrutura pré-definida. A sua forma consegue ser mais livre que as variações, uma vez que não há necessidade de repetir os temas, podem-se criar novos ao sabor da inspiração. As variações de Sergei Rachmaninoff sobre um tema de Niccolò Paganini possúem uma estrutura tão livre que o próprio Rachmaninoff as intitulou de Rapsódia sobre um tema de Paganini .
Os compositores românticos tiveram um interesse especial pelas rapsódias. Alguns declararam que a rapsódia os ajuda a dar corpo a uma música com os rasgos do tordo (Turdus philomelos) descrito por Robert Browning no seu Home Thoughts, from Abroad (1845).

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